02 de Dezembro de 2025

EBD: Lição 05: A alma, a natureza imaterial do Ser humano - 4º Trimestre 2025

Pastor Cristiano Medeiros
Cristiano Medeiros
Pastor
Jornalista e Coordenador de Ensino na Assembleia de Deus em Içara

INTRODUÇÃO

Na primeira lição apresentamos um conceito preliminar da alma, demonstrando seu lugar na tríplice constituição do homem. Vimos que, junto do espírito e inseparável dele, a alma compõe a parte imaterial ou espiritual do ser humano, que o torna uma pessoa, criado à imagem de Deus. Nesta lição buscaremos nos aprofundar no conceito e distinção da alma, estudando seus atributos e sua importância no relacionamento com Deus e com o próximo.


I. ATRIBUTOS DA ALMA

1. De volta ao Gênesis. A parte imaterial do ser humano é o que mais o diferencia dos animais, como bem evidenciado na criação (Gn 2.7). O homem é um ser pessoal, criado à imagem de Deus, com autoconsciência e autodeterminação. O Criador fez-lhe seu representante, dando-lhe poder de governo sobre toda a obra criada (Sl 8.3-6): “[...] enchei a terra, e sujeita-a; e dominai [...]” (Gn 1.28). Sua capacidade de administração, compreensão e decisão moral é resultado do caráter consciente e autônomo da alma humana. Isso é exemplificado originalmente na aptidão de lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15), discernir entre o certo e o errado e fazer escolhas (Gn 2.16,17) e dar nomes aos animais (Gn 2.19). A parte afetiva do homem é demonstrada na afirmação divina da necessidade de uma companheira e na expressão de satisfação de Adão ao receber Eva, que alguns eruditos consideram ser a primeira composição poética da história humana (Gn 2.18,23).

2. Entre o espírito e o corpo. A alma do homem é sua personalidade ou distintivo pessoal. Seus três principais atributos são: emoção ou sentimento, razão ou intelecto e volição ou vontade. É, portanto, a sede dos afetos, raciocínio, impulsos, desejos e decisões. O ser humano emprega esses atributos em sua comunicação com Deus e com o mundo físico, principalmente seus semelhantes. Para ter comunhão com Deus, a alma serve-se do espírito. Para comunicar-se com o próximo, o veículo são o corpo e seus órgãos sensoriais (pele, olhos, ouvidos, nariz, boca). Pode-se dizer, então, que a alma funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, o Ser Divino, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. O cântico de Maria, na casa de sua prima, Isabel, é uma típica cena dessa tríplice interação e comunicação (Lc 1.46,47).

3. A alma abatida. Os afetos da alma em relação a Deus são vistos na poesia do Salmo 42, quando o salmista conversa consigo mesmo: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença” (Sl 42.5). O contexto indica que o autor experimentava aflição espiritual e alguma crise em sua comunhão com Deus (vv.4,9; 43.2), por isso sua alma estava entristecida e suspirava: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Sl 42.2). O Salmo 84.2 também ilustra essa função da alma, assim como o Salmo 51, no qual Davi fala de sua tristeza e do anseio por um espírito reto, voluntário e renovado, o que devolveria alegria à integralidade de seu ser (Sl 51.7-12).


II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE

1. Distinção de substâncias. O texto de Mateus 10.28 é um excelente fundamento para o estudo da alma como parte da natureza imaterial do ser humano. Em um só versículo estão profundas verdades espirituais reveladas por Jesus a respeito de nossa psiquê; algumas delas relacionadas a debates alimentados ao longo de toda a História, inclusive no contexto da Igreja. Em primeiro lugar, Jesus expõe a clara distinção de substâncias entre as partes material e imaterial do homem: uma tangível (o corpo, que pode perecer por ação humana), outra intangível (a alma, que não pode ser destruída pelo homem). Nesse ponto é importante observar que em vários textos das Escrituras a parte imaterial é representada ora pela alma, ora pelo espírito (Ec 12.7; Tg 2.26; Ap 6.9). Nesses casos as referências sempre abrangem ambas as substâncias devido à sua inseparabilidade.

2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal. Ao tratar do perecimento da alma e do corpo no Inferno, Jesus refuta as concepções antropológicas materialistas existentes desde a Antiguidade. Em tempos modernos temos o marxismo, que prega que o homem se resume à matéria, ignorando a existência de uma alma consciente após a morte (Lc 16.19-31). Essa ideologia ateísta nega a pecaminosidade e a responsabilidade moral do indivíduo. Considera que o mal é estrutural; que a culpa é da sociedade; que as pessoas individualmente são vítimas de estruturas opressoras. Identificam pecados sociais, mas não individuais. Esse engano desconsidera a necessidade de arrependimento, conversão e salvação pessoal e mantém as almas de seus adeptos no caminho da perdição eterna (At 3.19; Jo 17.3). Toda ideologia que promete soluções absolutas para os problemas do homem por meio de doutrinas sociais, políticas ou econômicas incorre no mesmo erro (Pv 4.12,27; At 4.12).

3. Materialismo e teologia. A visão materialista da natureza humana vai além das questões político-ideológicas. Afeta também a teologia, principalmente quanto à missão da Igreja, a ortopraxia, isto é, a prática correta. No campo católico, inspira a Teologia da Libertação. No protestantismo, a Teologia da Missão Integral. Ambas se alimentam de concepções socioeconômicas e políticas comuns ao marxismo, que, por sua vez, tem como fundamento o ideário materialista e crítico, que busca tirar Deus do cenário humano e instigar as lutas de classes. Toda negação da condição pecaminosa do homem é, no mínimo, um ateísmo prático, independentemente do viés que assuma (Lm 3.39; Tt 1.16). Algumas correntes teológicas contemporâneas reinterpretam as Escrituras com base em vertentes da teologia da libertação, e compartilham do mesmo campo de distorção e confusão espiritual (Lc 11.17; 1Co 14.33). Conflitam com a sã doutrina, que é essencial para a salvação da alma (1Tm 4.6,16; 2Tm 4.1-3).


III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS

1. Edificação e saúde. A estabilidade de nossa vida cristã e nosso destino eterno dependem de como cuidamos de nossa alma (Lc 12.13-21). A oração é um meio eficaz para nos livrar da ansiedade, um transtorno de dimensão global (Fp 4.6; 1Pe 5.7). Deus nos dá sua paz e protege nossas emoções e pensamentos (Fp 4.7); e nos guia no caminho de sua vontade (Cl 3.15). Nossa parte é alimentar nossa mente apenas com o que edifica (Fp 4.6-8). O que falamos? O que ouvimos? O que lemos? O que vemos? Nossos hábitos diários determinam a saúde de nossa alma (Sl 1.1).

2. Purificação e renovação. Ainda quanto aos cuidados da alma, a Bíblia nos adverte dos maus pensamentos (Mt 15.19), dos desejos impuros e perversos (Tg 1.14,15; Pv 21.10) e das intenções e inclinações malignas (1Pe 2.1; Nm 21.5). Devemos purificar e renovar nossa alma (1Pe 1.22; Ef 4.23,24), para que sejamos transformados e experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2), vivendo em santidade e temor (Dt 4.15; Js 23.11-13).


CONCLUSÃO

O cristão precisa viver em plena santificação, o que inclui a contínua rejeição de pensamentos, sentimentos e desejos pecaminosos, mantendo pura a sua alma (1Pe 1.22; 1Jo 1.7). Atribui-se a Lutero a frase que diz: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que eles façam ninhos sobre elas”.