EBD: Lição 11: O espírito humano e as disciplinas cristãs - 4º Trimestre 2025
INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos sobre a importância das disciplinas cristãs. Partiremos do conceito de “piedade”, muito trabalhado por Paulo nas Epístolas Pastorais. Veremos que as disciplinas cristãs fazem parte de uma vida piedosa. Como o corpo precisa ser alimentado e exercitado todos os dias, o espírito precisa de disciplinas diárias para seu fortalecimento. As principais são a oração, o jejum e a meditação na Palavra de Deus.
I. A PIEDADE E AS DISCIPLINAS CRISTÃS
1. Exercício corporal e piedade. Escrevendo a Timóteo, Paulo apresenta um paralelo entre o exercício corporal e a piedade: “Porque o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, tendo a promessa da vida presente e da que há de vir” (1Tm 4.8). O apóstolo não está desconsiderando de forma absoluta o valor do exercício corporal. Aliás, o labor físico de Paulo era constante em decorrência de suas longas e constantes viagens, como também Jesus fizera (2Co 11.26; Mt 9.35). Contudo, ele enfatiza a sobre-excelência da piedade, em cujo conceito estão as disciplinas cristãs, os exercícios espirituais. Enquanto os exercícios corporais têm algum valor apenas para esta vida, a piedade nos traz benefícios nesta vida e na eternidade.
2. Piedade interna e externa. Do grego eusebia (“eu”, bom, e sebomai, ser devoto), a palavra piedade tem um amplo sentido espiritual e prático.
Podemos resumi-lo como sendo um conjunto de atitudes que expressam temor, respeito, reverência e amor a Deus. Tais condutas estão ligadas a fatores internos e externos. Ênfases exageradas no valor das obras produzem um entendimento limitado e incorreto dessa importante virtude, como visto no Catolicismo desde os tempos medievais. Os escribas e fariseus também davam grande valor ao aspecto externo. Faziam longas orações, dizimavam e amavam cumprir publicamente seus deveres religiosos, mas interiormente estavam cheios de hipocrisia e de maldade (Mt 23.5-7, 14-23,28). A verdadeira piedade contempla as disciplinas espirituais externas, como a oração, o jejum e a leitura das Escrituras, mas sempre relacionadas a uma vida de sincera e profunda devoção a Deus, procurando agradá-lo em tudo — e isso inclui um viver justo e misericordioso com o próximo (Mt 23.23; Cl 3.23; Tg 2.14-17).
3. Piedade e discrição. A prática das disciplinas espirituais não combina com o exibicionismo. Jesus advertiu seus discípulos que fossem discretos quando orassem e jejuassem (Mt 6.5,6,16-18). Quanto ao jejum, aconselhou ações concretas para não dar sinais de estar jejuando: “quando jejuares, unge a cabeça e lava o rosto, para não pareceres aos homens que jejuas” (Mt 6.17,18). O que dizer dos que proclamam seus jejuns, inclusive nas redes sociais? Como Jesus enfatizou, se buscarmos glória humana nossa recompensa se resumirá a um reconhecimento efêmero, sem valor algum diante de Deus. O anúncio do jejum somente convém ser feito quando sua prática for coletiva. Ainda assim, de preferência apenas entre as pessoas envolvidas com o propósito (Et 4.16).
II. O DESAFIO DAS DISCIPLINAS ESPIRITUAIS
1. A analogia do corpo. Não é fácil manter uma rotina de exercícios físicos. Quanto menos se exercita, menos se quer exercitar. E quanto mais tempo parado, pior fica. A retomada costuma ser um processo doloroso e geralmente impõe limitações, impedindo que se alcance um estado ideal de mobilidade. Assim acontece também na vida espiritual. Quanto menos oramos, jejuamos e lemos a Bíblia, menos queremos fazê-lo. E a vida espiritual vai se enfraquecendo. Os movimentos vão se tornando mais lentos e curtos. Há risco de atrofia e paralisia. O escritor aos Hebreus adverte: “Portanto, tornai a levantar as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados” (Hb 12.12). A linguagem é metafórica, mas às vezes a fraqueza do espírito é tão profunda que é sentida no corpo. A Bíblia nos recomenda reagir! (Jl 3.10; 1Co 16.13).
2. Apatia, engano e pecado. A diminuição da prática da oração, do jejum e da meditação nas Escrituras causa a perda de discernimento e sensibilidade espiritual. As crenças profundamente bíblicas, antes consolidadas, aos poucos vão se tornando superficiais até serem substituídas por “filosofias e vãs sutilezas” (Cl 2.8), que normalizam o que antes era pecado (1Jo 3.7,8). Cristãos e igrejas são dominados pelo secularismo e ideologias de perversão, e passam a ser conduzidos por princípios e valores do presente século (Lc 18.8; 2Pe 2.1-3). Como estão nossas disciplinas espirituais pessoais e congregacionais?
3. Da teoria à prática. Muito mais que teoria, as disciplinas espirituais devem ser praticadas por todo cristão. Reservar um tempo no início do dia para oração e meditação nas Escrituras é fundamental. Sempre que possível, repetir a disciplina ao longo do dia, ainda que em momentos curtos. Já de noite, concluídas as tarefas cotidianas, voltar à leitura da Bíblia e à oração (Sl 55.17; Dn 6.10). Praticar jejuns. Manter uma frequência regular aos cultos, com especial dedicação às reuniões de oração e consagração. Ser aluno assíduo da Escola Dominical também é uma disciplina espiritual essencial que fortalece toda a família. De forma complementar, devemos nos edificar com hinos sacros e literatura cristã sadia (1Tm 4.13; 2Tm 4.13).
III. AS DISCIPLINAS E A LUTA ESPIRITUAL
1. As astúcias do Maligno. O cristão tem uma luta espiritual travada nas regiões celestiais, “contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (Ef 6.12). Não podemos nos descuidar, desconsiderando esta realidade. O Inimigo é astuto e vive engendrando ciladas (Ef 6.11). Seu intento constante é nos atingir e produzir terríveis danos em nosso espírito, alma e corpo. De igual forma, quer atingir os que nos são queridos, principalmente nossa família (Jo 10.10; 1Pe 5.8,9). Por isso, perseverar nas disciplinas espirituais é essencial. Precisamos viver em constante comunhão com Cristo, “orando em todo o tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef 6.18). Só Ele tem vida abundante para nos dar e pode nos guardar do Inimigo (Jo 10.28).
2. Evitando as distrações. Sabedores do quanto as disciplinas espirituais são indispensáveis para uma vida cristã vitoriosa, devemos nos apegar a elas, agindo com prudência na administração de nosso tempo (Ef 5.15,16). Para isso, é preciso evitar as distrações, das quais atualmente o celular é a principal. Tem se tornado uma compulsão acessar as redes sociais: ver mensagens no WhatsApp, abrir o Instagram ou o Facebook ou assistir a um vídeo no Youtube — às vezes até mesmo nos templos em pleno culto! É a chamada dependência digital, que cresce a cada dia. Quando menos se percebe, o celular está à mão, mesmo sem qualquer propósito útil ou necessário. Que o Senhor nos guarde de todo vício!
CONCLUSÃO
O exercício das disciplinas espirituais é fundamental para nos fortalecer e nos dar poder contra as forças das trevas (Lc 10.19,20; Mc 16.17,18). Assim como as necessidades físicas, nosso espírito precisa ser alimentando diariamente e por toda a vida (1Ts 5.17; 1Pe 2.2,3).